á quem diga que a intolerância, os nervos a flor da pele, dominam o dia-a-dia no transporte coletivo da cidade de São Paulo. O caso em questão se passou na linha 3 – Vermelha, na altura da estação Bresser-Mooca, no sentido do centro. O sol lutava para desvencilhar-se das nuvens, tínhamos 15ºC de temperatura na cidade, conforme mostrava aqueles monitores dentro do vagão, entre um video e outro de entretenimento. Dentro do trem, calor senegalês.
Estava espremido de pé de frente à porta e ao lado de um daqueles assentos reservados a idosos, gestantes e tal. Nele, um rapaz de mais ou menos 20 anos dormia tranqüilamente. A viagem seguia sem problemas, apesar da sensação de estarmos dentro de uma lata de sardinhas.
Na estação Bresser-Mooca, uma jovem gestante entrou no vagão de maneira decidida, firme. Dei licença para passar e ela foi feito um foguete em direção ao sonolento viajante (aquele, no assento preferencial!). Ao se aproximar do dorminhoco, resvalou seu joelho no joelho dele que quase deu um pulo, assustado.
Ainda atordoado, ofereceu-se para segurar a bolsa da moça, esticando o braço com um sorriso amarelo.
– Dá aqui a bolsa. Eu seguro pra você.
– Não. Levante-se e deixe-me sentar.
– O que você tem melhor do que eu, pra vir reivindicar o lugar? Paguei o mesmo preço que você, minha filh…
Ele – e eu, que assistia a tudo atentamente – foi surpreendido por um sujeito que arrancou-lhe do assento violentamente.
Os outros passageiros começaram a gritar contra o pobre infeliz, a favor da moça e do brutamontes. Em comum acordo, arremessaram o raquítico rapaz para fora do metrô, quando este fez parada na estação Brás. As pessoas na plataforma não acreditavam no que viam. Até uma senhora idosa, que estava sentada num assento próximo da cena, soltou um grito antes da porta fechar-se completamente.
– Salafrário!
Saindo da estação, indo em direção à Sé, a jovem gestante começou a chorar. Todos em volta, ainda xingando o sujeito posto pra fora do vagão, tentaram acalmá-la, maldizendo a atitude do mal-educado rapaz. A moça – que parecia bastante confusa – balbuciou, vacilante:
– Vocês não entendem – choramingou a moça. E completou:
– Aquele desgraçado é o pai do meu bebê…
Em choque, os “justiceiros” de ocasião deixaram-na sentada e desceram, um a um, para fazer a baldeação. Eu também desci, em meio a algazarra, rumo à estação Vergueiro. Ela, com sua enorme barriga, partiu dentro da composição, melancolicamente, em direção a estação Barra Funda…